Bloguinho da Zizi

terça-feira, 26 de maio de 2009

Relacionamentos



Eram os primeiros dias de outono. Flores caiam incessantemente no chão, tornando multicoloridos caminhos que até então não apresentavam nenhum suspiro de vida.
Um mestre, absorto em seus pensamentos, contemplava as nuvens escuras que pairavam no céu, sentado em um banco de madeira, ao lado de um imenso lago, em um dos principais parques da cidade. Como se estivesse em uma comunhão com Deus, seus pensamentos pecorriam cada ponto do universo.
O mestre estava tão distante que não notou que uma jovem mulher sentou-se ao lado. Cabelos loiros chocando-se com uma pequena brisa, olhos verdes brilhantes e penetrantes, um porte de princesa escondido em trejeitos simples mas firmes.
O mestre, após algumas horas de êxtase solitário, dividindo seus sentidos com o próprio universo, retornou de seu exílio mental e finalmente notou a presença de tão impar criatura, que apenas e tão somente pela singela presença poder-se-ia afirmar a infinita perfeição divina. E como se sentisse uma enorme confiança naquele ser ao seu lado, confiança esta que surgiu absolutamente do nada, como todas as coisas importantes da vida surgem, a jovem mulher, com uma voz tão doce quanto a de sedutoras sereais entorpecendo marujos incautos, lhe perguntou:
- Por quê os relacionamentos são tão complicados?
O mestre sorriu. O ser humano em geral tem uma imensa e infinita capacidade de tornar até as coisas mais simples em enigmas indecifráveis, pensou.
- Pode uma mulher, de uma hora para outra, se apaixonar perdidamente por um outro homem, esquecendo alguém que a acompanhava há muito mais tempo? Insistiu a jovem mulher, sedenta por uma resposta objetiva ao seu dilema.
O mestre, com sua calma e tranqüilidade peculiar, depois de tanta insistência, respondeu:
- Você gosta de carros?
- Claro que sim, respondeu a jovem mulher, mas o que carros tem a ver com as minhas questões?
- E para que os carros servem? Qual a principal finalidade deles? Questionou o mestre para a já aturdida jovem.
- Basicamente carros servem para transportar pessoas de um determinado lugar para outro, geralmente em distâncias que tornariam uma eventual caminhada desgastante e improdutiva, respondeu a já impaciente jovem.
- Então você concorda, continuou o mestre, que considerando a sua definição, qualquer carro poderia lhe ser útil, desde os mais velhos até os mais novos, com direção mecânica ou direção hidráulica, manual ou automático?
- Claro que sim – respondeu a jovem.
- Mas entre um com direção manual e outro com direção hidráulica, qual você prefere? Questionou o mestre.
- Eu prefiro o de direção hidráulica, respondeu a jovem.
- E por quê? Questionou novamente o mestre.
- Porque eu já experimentei tanto carros com direções manuais quanto com direções hidráulicas e eu prefiro o com direção hidráulica. E posso afirmar que quem experimenta ambos com certeza sempre irá preferir a direção hidráulica, finalizou a jovem loira. Mas ainda não entendi o que carros tem a ver com relacionamentos.
- Porque durante muito tempo você teve um relacionamento que se assemelhava com um carro com direção manual. Ele atendia todas as suas necessidades. Te levava a todos os lugares que você queria e a seus olhos o relacionamento parecia perfeito. No entanto, quando você descobriu um novo relacionamento, representado pelo carro com direção hidráulica, você percebeu que poderia ter evoluído muito mais, e portanto o seu novo referencial passou a ser o novo carro. Note que existem pessoas que amam o carro com direção manual e outros que amam o carro com direção hidráulica.
A questão não é que um é melhor que o outro. A questão principal que você deve analisar é se o carro com direção hidráulica torna sua vida melhor e principalmente a torna uma pessoa melhor.
Na vida a grande reflexão que temos que fazer em relação aos relacionamentos é se eles estão nos tornando o melhor ser humano que poderíamos nos tornar.
É a resposta a esta pergunta que define nossas decisões. E que também pode responder seu questionamento.
A jovem abriu um sorriso.
O sol, que estava escondido entre as nuvens, voltou a surgir.
(Autor:
Liebing Grossberg)

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